105. Você existe?

Desde muito pequeno que observo a realidade à minha volta… ou melhor, que interpreto algumas perspectivas únicas acerca da nossa co-existência.

Uma dessas memórias é o meu avô e a forma como cumprimentava todas as pessoas que ia encontrando, ao subir diariamente a rua em que morava: rua da Mouraria 29, em Évora. Tinha um chapéu que ia levantando à medida que encontrava as pessoas, os vizinhos e os conhecidos. Quando passo hoje na mesma rua, o que me incomóda é a falta de pessoas na rua, e não o facto de ter perdido o meu avô do mundo físico.

Tenho a sensação que os nossos comportamentos mais humanistas, sociais e afectuosos se gravam nas nossas memórias de forma profunda, persistente e sempre actual. Esse amor puro que todos já experimentámos à nossa maneira.

Por outro lado a nossa identidade enquanto humanos que coincidiram viver nesta terra, neste espaço e neste ambiente é “somente” um conjunto de matéria única e complexa e um nome também ele complexo que a maioria dos amigos e conhecidos nunca soube.

Por esta e por outras muitas razões, acredito que a nossa existência terá mais a ver com aspectos sociais, relacionais, hereditários e comportamentais, do que com factores relacionados com o ego, individualismo, materialidade e até resultados tangíveis de comportamentos humanos sistémicos.

É preciso treinar para ser feliz. Não basta acharmos que somos felizes por este ou aquele motivo.

O desporto será sempre, para mim, a melhor fonte de auto-aprendizagem e de relação connosco próprios.

  • O desporto, na sua prática, tem um conjunto de regras democráticas e transparentes;
  • O desporto promove hábitos e comportamentos de aprendizagem contínua do eu para o eu, do eu para os outros e dos outros para o eu, em tempo real e sem tempo para avaliações influenciadoras da performance dos intervenientes;
  • O desporto permite o acesso a grupos de profissionais altamente especializados em todas as variáveis que permitem ao Atleta ser consciente de um conjunto alargado de conhecimentos em áreas que podem ir do treino de grupos musculares concretos, à hipnose, à meditação e a outras técnicas que nos permitem aceder e treinar o subconsciente a reter maiores quantidades de informação na memória muscular. Há quem defende que quando a informação chega ao nosso cérebro, ela já tem a inteligência dos sentidos, da experiência neuro-muscular e da tal memória profunda que se vai acumulando por experiência e conforto em ambientes de adrenalina, seratonina e dopamina;
  • O desporto é ainda uma componente de importância ímpar para ajudar o organismo a processar os factores epigenéticos que resultam do processamento da respiração, da alimentação e dos hábitos mais ou menos saudáveis das populações.
  • No desporto existem individualidades a dizer que só ganharam a medalha porque tiveram por traz uma equipa, e equipas a atribuir a vitória à individualidade. Neste sentido parece até que não faz muito sentido, mas é uma contradição bem constante da informação pseudo-desportiva.
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Enquanto humanos a pergunta que deixo é:

Você existe?

Se sim, são boas notícias. É porque é consciente de que contribui para a sociedade seja de que forma for.

Outro dos meus incómodos tem a ver com a frustração da nossa imaginação. Enquanto indivíduos não devemos deixar que nos atirem para sítios onde não podemos explorar a nossa imaginação. Frustar a imaginação, a meditação e a abstração do eu, é aniquilar a capacidade de treinar a nossa própria imaginação e consequentemente a felicidade.

E é fundamentalmente por esta razão que temo que a história do Cristiano Ronaldo não seja nada fácil. CR7 revolucionou o mundo do futebol, mas o mundo do futebol não deverá revolucionar CR7.

A saída do mundo futebol para ele será a maior pena que ele terá de cumprir, por ter vivido com um único propósito. Ele preparar uma coisa que nunca preparou, tem de ser o mesmo do que pedir a um apresentador de televisão que jogue futebol como CR7 no dia em que deixa a carreira de apresentador. Alguém sabe o que é viver sem a dinâmica do desporto de Alta competição? Destas pessoas que sabem quantas chegaram a meio do impacto social da sua carreira? É demasiado fácil falar de alguém que só conhecemos da comunicação social. Difícil é não julgar,não avaliar sem informação ou tomar uma posição com base em dióxido de carbono.

A próxima pessoa que diga que algo não é fazível, exequível ou expectável, responda que nenhuma universidade dos EUA (a malta gosta do que vem de la) não conseguiram prever a eleição de Donald Trump.

Se existimos, então temos a capacidade de treinar para sermos felizes.

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Ao contrário do velho conhecido Descartes, penso logo existo, como alentejano que sou, penso logo exausto. Vou dormir a sesta.

Obrigado por existirem!

Feliz 2023!

Publicado por Ricardo A.

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